.

.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sintonia na vida e na arte

Edição 385 - 23/01/08




Às vésperas de estrear O Signo da Cidade, filme escrito e estrelado por ela e dirigido por ele, Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli falam da parceria profissional e do casamento que mantêm há 30 anos

POR LETÍCIA PIMENTA


Juntos há 30 anos, os atores Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli parecem conservar o mesmo olhar apaixonado do início da relação, que começou na novela Aritana, exibida pela extinta TV Tupi, entre 1978 e 1979. A sintonia entre os dois ficou evidente durante a entrevista concedida a QUEM para divulgar o filme O Signo da Cidade, que tem roteiro de Bruna (que também atua no longa), direção de Riccelli e ainda conta com a participação do filho do casal, Kim, de
25 anos, como ator e diretorassistente. A atriz, de 55, e o ator, de 61, vivem em Los Angeles desde 1991. Lá, mantêm a produtora Pulsar, que durante dez anos fez o programa Gente de Expressão (1991-2001), no qual Bruna entrevistava celebridades internacionais. Agora, a empresa se dedica a documentários e cinema. Felizes com a repercussão em festivais do segundo filme (o primeiro é S.O.S. – Stress, Orgasms and Salvation, de 2005), O Signo da Cidade, que estréia nesta sexta-feira (25), em São Paulo, e no dia 1o de fevereiro, no Rio, Bruna e Riccelli falam sobre trabalho e o casamento duradouro.

QUEM: Vocês são casados e trabalham juntos. Como funciona isso?
BRUNA LOMBARDI: A gente conversa muito sobre trabalho. Temos as preferências muito parecidas. O diálogo é fácil, a gente entende rápido para onde o outro quer ir. Nós nos ouvimos.
CARLOS ALBERTO RICCELLI: Existe troca o tempo todo. Mesmo se não fôssemos uma família, a relação autor–diretor tem que ser muito intensa, pois tudo começa no roteiro. A principal função do diretor é tentar ser fiel ao que o autor quer dizer.


QUEM: Mas vocês nunca discordam?
BL: Quando existe convivência, é normal ter briga. A intimidade traz isso. Aí, temos que parar e dizer: “Não é por aí, vamos voltar ao trabalho”. Mas é um processo muito rico.

QUEM: O Kim está estreando como diretor-assistente, além de participar do filme como ator. Vocês influenciaram a escolha dele?
BL: Escrevi o papel especialmente para o Kim. Quando ele leu, gostou e topou fazer. Mas a gente nunca forçou nada. Ele faz o que quer. É um ótimo músico, ator (formado em teatro pela Universidade da Califórnia) e diretor. Integrou um grupo de teatro, o Lucent Dossier, e já se apresentou em Veneza, na Irlanda, em Tóquio.

QUEM: Por que vocês não quiseram ter mais filhos?
BL: A gente achou que só ia dar conta de um e acho que estamos dando. Nós somos um trio muito próximo. Temos intimidade, nenhuma formalidade e nenhuma hierarquia, aquela coisa de pai e mãe. Outro dia, saímos juntos e um repórter comentou: “Engraçado você sair com a sua mãe e não com os seus amigos”. E o Kim respondeu: “Ela é minha amiga”. Achei isso tão legal.

QUEM: Como é a rotina em Los Angeles?
BL: Depende do trabalho. Em momentos mais tranqüilos, gosto de cuidar do jardim, amo plantar. Minha casa precisa ter flores frescas. Meu jardim tem muita fruta. Também fazemos jantares, reunimos os amigos e todo mundo cozinha junto.
CAR: Faço tai chi chuan, jogo basquete e vou muito ao cinema. E a Bruna faz muita ioga.

QUEM: Por que vocês decidiram morar fora?
BL: Saímos do Brasil porque eu queria estudar. Fiz cinema na Universidade da Califórnia. Nada foi muito planejado. A gente foi ficando, mas sempre esteve aqui também. Jamais conseguimos sair completamente do Brasil. Temos nossa casa em São Paulo, a mesma onde o Kim nasceu.

QUEM: Vocês estão casados há 30 anos, algo cada vez mais raro. Como isso é possível?
BL: A gente nem conta o tempo que está casado. Não somos adeptos dos números e nunca pensamos no tempo. Por isso, parece que foi ontem e está sendo. Vivemos muito ocupados com nosso trabalho, que é intenso. Ter mergulhado em coisas que nos interessam também contribui para a longevidade da relação.
CAR: Se a gente está junto, não é pela convenção. É uma relação que deu certo, funcionou. É claro que amor, tesão e querer que o outro se sinta cada vez mais completo e realizado é indispensável em qualquer relação. Não pode haver insegurança nem medo de perder o outro. Nunca senti isso. Cada um é cada um e a gente mantém nossa individualidade. Quando se investe, é difícil dar errado. É assim com tudo na vida. Costumo usar uma frase: “Casamento é bom quando é cada vez melhor”.

QUEM: E como é possível ficar cada vez melhor?
CAR: Quando a gente consegue ouvir um ao outro e se entender. Uma briga que no começo da relação poderia nos deixar distantes durante uma semana hoje não deixa mais. Em meia hora, já está tudo resolvido. Para isso, é preciso ter paciência e aprender a se colocar no lugar do outro.

QUEM: A traição assombra o casamento?
BL: Quando estamos em uma relação, estamos vivos e correndo perigo. Uma das características do nosso trabalho é beijar a boca de outros atores. É preciso relaxar. Se você tiver ciúme, vai viver mal. Pode acontecer de eu me apaixonar por outra pessoa e ele também? Claro que pode. Nós não temos como controlar isso. A vida é feita de tentações e seduções.
CAR: A gente não sabe o que vai nos acontecer daqui a um minuto. Se eu vou me apaixonar, se ela vai se apaixonar. Não temos tempo para ficar adivinhando o futuro.

QUEM: Como reagiriam a uma traição?
BL: Não tenho a menor idéia de como eu reagiria a nada. Vou ver na hora.
CAR: Não penso sobre isso. É muito ruim ficar sofrendo com a possibilidade de que algo assim possa acontecer.

QUEM: Fidelidade é importante para vocês?
CAR: Nunca pensamos nisso, não é um assunto discutido entre nós. A vida é uma coisa muito aberta e ampla. A gente tem que estar aberto para tudo, aí basta optar.

QUEM: Significa então que a relação de vocês é aberta?
CAR: A vida é aberta. Não existe esse tipo de preocupação entre a gente.

QUEM: Como um conquistou o outro?
BL: At the first “hello”. (No primeiro “oi”.) O físico dele foi o que mais me chamou a atenção.
CAR: Comigo foi pelo mesmo motivo (risos).

QUEM: Vocês têm medo de envelhecer?
BL: Envelhecer é um grande privilégio, já que a outra opção é morrer. Se a gente está vivo, tem que agradecer. Mas, para tentar resolver um pouco os problemas do mundo, você tem que buscar estar sempre no seu melhor. Não só fisicamente, mas espiritualmente.
CAR: Estar vivo é isso. É tentar melhorar o que te cerca.

QUEM: Depois de 30 anos juntos, como fica o sexo no casamento?
BL: Se não melhorar, é melhor se separar (risos).

Nenhum comentário: