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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Bruna Lombardi:Entrevista Revista TPM



ELA É MUSA HÁ MAIS DE 30 ANOS. HÁ 13, LEVA A VIDA LONGE DOS HOLOFOTES E DOS PADRÕES. AOS 51, EXPLICA QUE O TEMPO ESTÁ A NOSSO FAVOR E CONTA COMO É ENVELHECER EM PAZ COM O CORPO E COM O ESPÍRITO



Bruna Patrícia Maria Teresa Romilda Lombardi, a Bruna Lombardi que virou musa no Brasil nos anos 80 e ainda desperta suspiros por onde passa, poderia facilmente estar na capa das revistas, nos programas de TV ou nas colunas sociais. Mas não está. Aos 51 anos, essa paulistana que parece nunca envelhecer e que se tornou uma espécie de ícone do imaginário masculino optou por viver discretamente. Nas raras vezes em que aparece na mídia, quase sempre acompanhada do marido, Carlos Ricelli, está em festivais de cinema ou exposições de arte. Ilhas ou castelos? Jamais. Há 13 anos vivendo nos Estados Unidos, onde foi estudar e acabou ficando, ela diz que não troca a vida anônima e a liberdade de ir e vir sem ser observada por nada. A atriz acredita que a fonte da juventude brota de dentro para fora, e não ao contrário. Abaixo, ela explica por que decidiu viver na contramão do reality show que se tornou a vida das celebridades brasileiras, conta como foi posar para a Playboy 15 anos atrás e fala como encara – ou melhor, aceita – as rugas que aparecem com o tempo.


A decisão de viver fora do Brasil teve a ver com o desejo de ter uma vida longe dos olhares alheios?
Sim. Isso foi fundamental para o crescimento de nós três [ela, o marido e o filho, Kim, de 23 anos]. Decidimos nos mudar para estudar fora, abrir novos horizontes, ampliar a perspectiva e poder viver essas coisas tendo uma vida anônima onde você pode observar em vez de ser observado.

A escolha de criar seu filho em Los Angeles teve a ver com o tipo de educação que quis dar a ele?
Sem dúvida. No Brasil, o Kim ia acabar se tornando uma celebridade mesmo sem ter feito nada e isso não é interessante. Ele acabaria aprendendo a viver numa artificialidade, ia conhecer uma vida não verdadeira. Desde cedo percebi que a fama não é a melhor coisa para se buscar, e sim o trabalho. A fama pode até vir em decorrência do trabalho, do contrário, é fugaz e perigoso.

Seu casamento com o Ricelli tem mais de 20 anos, coisa cada vez mais rara hoje em dia. Qual é a tônica desse relacionamento?
Tudo é resultado de uma busca de valores. Acredito que temos uma passagem muito rápida por este planeta e escolhi usufruir o meu tempo por aqui me guiando por alguns valores que não têm a ver com a sociedade, mas com uma verdade minha. O que enfeia as pessoas e faz com que elas façam besteiras são os maus valores. E calhou de tanto eu como o Ri e o Kim pensarmos assim.

Você sempre foi bonita, uma espécie de musa no Brasil, e parece estar cada vez mais jovem. Que peso a vaidade tem na sua vida?
Vaidade é uma coisa gostosa e até essencial, mas eu não sou obcecada. A beleza é um todo e vem principalmente de dentro pra fora. Não é que eu não dou valor à beleza, mas dou a ela a dimensão que deve ter, nem mais nem menos. Outro dia li uma entrevista que dei aos 20 e poucos anos e o jornalista me perguntou se me achava bonita. Disse: “Não sou, estou ficando”. E acho que foi isso que aconteceu, naturalmente, sem forçar a natureza das coisas. Uma pessoa que cuida só da camada de fora é bonita, mas não bela. Diferente de quem cuida das duas camadas, que são as pessoas que iluminam os ambientes.

Como você aprendeu a cultivar essa beleza ao longo da vida?
Fazendo tudo o que é natural pra mim. Nunca fiz dieta, por exemplo. Como tudo o que me dá vontade, respeito profundamente meus desejos. O segredo? Ouvir o corpo. O grande problema é que hoje está todo mundo tão envolvido com esse monte de barulhos externos que mal consegue ouvir o que o corpo está dizendo ou pedindo. Como chocolate quando o corpo pede, bebo água quando o corpo pede, tomo um bom vinho quando o corpo pede. Sem agressão. Sem exagero, naturalmente.

E exercícios físicos?
Pratico a tradicional hatha ioga há uns 10 anos. Faço musculação e, quando estou em São Paulo, tenho um treinador que me acompanha há anos. Faço tudo isso por prazer, por isso gosto de dizer que o segredo é descobrir quais são as coisas que você
ama porque aí não tem peso.

Como é seu banheiro? Tem mil e um cremes ou só coisas básicas?
Tem épocas que eu não tô nem aí, só uso o básico, e passo meses sem comprar nada. E tem épocas que me bate aqueles cinco minutos e compro um monte de creminhos, sapatos de que nem preciso, um vestido que quero “urgentemente” e coisas assim. Acho que toda mulher é meio desbalanceada. E acho fundamental ver isso com humor pois é justamente esse desbalanço que faz da gente esses seres interessantíssimos. O feminino é uma permanente contradição.

Você está com 51 anos, é bonita, famosa e tinha tudo para levar um estilo de vida mais mainstream e menos outside. Por que optou pelo segundo?
Não foi uma opção, a vida foi me levando a isso. As pressões sociais são imensas e as confusões de valores, enormes. Tudo é excesso hoje em dia: as propagandas, as dietas, as modas. Como manter a delicadeza no meio de tanta grosseria? É aí que você tem que ter a sua sabedoria, criar um mundo seu, das coisas que você realmente quer. É simples, mas difícil como ouvir um riacho no meio de uma estrada.

“ENVELHECER BEM DEPENDE DA SUA RELAÇÃO COM O TEMPO E, PARA MIM, O TEMPO É BEM-VINDO, É O MESTRE, É QUEM TE ENSINA, QUEM CONTA AS HISTÓRIAS”

Toparia um novo convite da Playboy para posar nua?
Acho a nudez linda, mas não sei se toparia de novo. Fiz a Playboy uma vez e foi maravilhoso por causa daquele momento de vida. Tinha acabado de decidir morar em Los Angeles, era um tempo de mudanças boas. As fotos foram feitas no Caribe com um fotógrafo muito legal, que me deixou totalmente à vontade. Houve uma magia, foi uma ótima experiência. Tem que ser assim, se não, não tem por quê.

Como está sendo ver a Bruna envelhecer?
Olho-me no espelho e penso: “Eis o que estou ficando”. Vejo isso com prazer, o prazer de estar se construindo. Envelhecer bem depende da sua relação com o tempo e, para mim, o tempo é bem-vindo, é o grande mestre, é quem te ensina, quem conta as histórias, quem te faz compreender o que você não compreendia. O passar do tempo me elucida. Isso não quer dizer que você não possa – e não deva – fazer tudo que estiver ao seu alcance para se cuidar. Mas aceitar o processo natural da vida sem paranóia é fundamental para envelhecer com beleza.

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